O processo de luto no contexto da COVID-19

28 de maio de 2020

O luto é um processo de permite a reestruturação do sujeito após uma perda de um vínculo significativo. Após a pandemia da COVID-19, os números de mortes têm sido crescentes e súbitos até o momento do pico da doença. Essa infecção do coronavírus trouxe diversas mudanças do ponto de vista social como, por exemplo, alterações nos rituais fúnebres e na vivência do luto pelos familiares que perderam alguém vítima do vírus.

Cada sociedade têm seus próprios padrões para lidar com a morte de acordo com a cultura. O objetivo do enterro de um ente querido é uma forma de ritual na qual amigos e familiares compartilham a dor e começam a elaborar o luto, é um momento de acolhimento mútuo, abraços, choros e desabafos compartilhados, na qual cada pessoa começa a ter consciência do fato irreversível da morte e das mudanças que a ausência de quem partiu irá repercutir na vida de cada um. Se o velório não ocorrer, os enlutados tendem ficar mais tempo na fase de negação do luto, recusando-se a acreditar que a morte do ente querido ocorreu.  Apesar do costume dos rituais que foram passados por gerações, a pandemia trouxe desafios nesse momento de dor com regras de distanciamento social, caixão lacrado, tempo reduzido para o velório, não há o procedimento de tanatopraxia e o corpo pode ser cremado sem atestado de óbito prévio. O luto pode ser ainda mais doloroso devido aos limites da despedida com o objetivo de evitar o contágio e, consequentemente, mais adoecidos ou mortes.

As recomendações de biossegurança no manejo dos corpos e funerais precisam ser respeitadas para evitar o avanço da pandemia. Mas o cenário atual de vivência do luto é algo novo e complexo que precisa ser ressignificado, caso contrário, há maior possibilidade de desenvolver um luto complicado e, consequentemente,  queda no sistema imunológico e adoecimento. Os rituais de despedida precisam ser seguros, mas também precisam acontecer para que o luto seja  mais saudável. O uso da tecnologia é um recurso eficiente nesse processo, evitando o contato direto e permitindo o compartilhamento de sentimentos entre os familiares e amigos, práticas religiosas e cultos virtuais também podem ajudar no momento de dor durante a pandemia. A expressão pela arte, música e desenho, bem como olhar fotos do falecido podem ser importantes na vivência do luto. Caso haja a necessidade de encontros presenciais entre familiares, deve-se respeitar o distanciamento social, usar máscaras corretamente e evitar aglomerações, bem como deve-se evitar também a presença de pessoas de idade igual ou superior a 60 anos, gestantes, lactantes, portadores de doenças crônicas e imunodeprimidos, pois apresentam maior risco de agravamento do COVID-19. Com os cuidados necessários, é possível utilizar os recursos disponíveis para vivenciar o luto, a ajuda profissional de um(a) psicólogo(a) é importante para auxiliar na elaboração do luto e das questões subjetivas dos enlutados.

Referências

BRASIL. Manejo de corpos no contexto do novo coronavírus – COVID-19. Ministério da Saúde: Brasília, março/2020. Disponível em: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/ marco/25/manejo-corpos-coronavirus-versao1-25mar20-rev5.pdf

CRISPIM, Douglas et. al. Notícias de óbito em diferentes cenários da pandemia. Texto online. Março, 2020. Disponível em: https://ammg.org.br/wp-content/uploads/%C3%93bitoCOVID-19.pdf